Ainda
passeando pela Antropologia Forense e pegando gancho no nosso último texto, que
falamos sobre a estimativa de sexo e sua aplicação no contexto atual (inclusive, se você ainda não leu, vai lá e
confere!), outro fator identificador que é possível de se obter graças à
análise dos nossos ossos, e dos nossos dentes, é a nossa altura. Portanto,
seguiremos conversando sobre as estimativas!
No
vivo, a altura é medida com o auxílio de régua graduada e é determinada pela
distância do ponto mais alto da cabeça ao solo, estando o indivíduo em pé,
descalço e orientado pelo plano de Frankfurt. No cadáver, em decúbito dorsal,
mede-se do ponto mais alto da cabeça à face inferior do calcanhar. Até aí tudo
bem, o problema é quando os peritos estão diante de ossadas, completas ou não,
sem qualquer informação sobre quem é o examinado, ou examinada, e isso é comum
na rotina dos institutos oficiais de perícia.
Buscar
meios para estimar a altura do ser humano é um objetivo que vem desde muuuito
tempo. Vocês já devem ter visto, ou ouvido falar, desse moço aí da figura
abaixo, não é?
Então,
esse é o Homem Vitruviano, um desenho do século XV, de Leonardo da Vinci,
inspirado na obra do arquiteto romano Marco Vitrúvio. O Homem Vitruviano
retrata as proporções perfeitas (no que diz respeito a padrões matemáticos) da
figura masculina e seu conceito é considerado modelo da proporção do corpo
humano. Alguns deles são:
1. A altura do homem corresponde a
quatro antebraços;
2. A longitude dos braços estendidos de
um homem é igual à altura dele;
3. A largura máxima dos ombros é igual a
1/4 da altura de um homem;
4. O comprimento da mão é 1/10 da altura
de um homem;
… E segue, as descrições
são diversas!
Porém, a estatura de um indivíduo adulto é determinada
por vários fatores, uns inerentes a ele - como sexo, herança genética, idade -
e outros que correspondem a influências externas, como nutrição, horas de sono,
clima, estímulos durante a fase de crescimento etc. Por isso, estimar a
estatura de alguém quando este alguém “não está completo” é tarefa que mais
difícil do que parece, tratando-se de uma ossada é preciso levar em
consideração que ali não estão as partes moles nem os discos intervertebrais,
assim, o trabalho vai além de colocar os ossos no lugar e montar o
“quebra-cabeça” do corpo humano.
É por isso que existem, descritos na literatura, métodos
científicos para estimativa de altura e a escolha de qual aplicar vai depender
do material que se tem para exame. Estando diante de ossada incompleta, ou
mesmo somente do crânio, os dentes podem ser fonte de muita informação. Lembram
do nosso texto sobre antropologia forense (dois
posts atrás)? Lá falamos sobre eles serem mais resistentes à traumas, por
estarem protegidos dentro da cavidade bucal, e por isso é comum que estejam
presentes e disponíveis para análise.
Carrea, em 1920, conseguiu estabelecer relação entre
medidas dentárias, as quais ele deu o nome de corda e arco, e a estatura de um
indivíduo, para isso ele considerou as distâncias referentes à largura de
incisivos centrais, laterais e caninos inferiores, sua fórmula resulta em uma
estatura mínima e máxima, a partir disso estima-se que a estatura real do
examinado esteja entre elas.
Porém (para cada
solução, outro problema), é possível que o perito disponha do crânio, mas
não da mandíbula, por este ser um osso articulado é comum que a ação da fauna
local “suma” com metade das nossas possibilidades.
(Para cada
problema, outra solução) Em 2011, a fim de ampliar as possibilidades do uso
do método de Carrea, Lima (também
conhecida como Profª Laíse, coordenadora desta Liga 💓, e que também tem
texto aqui no blog sobre a experiência com Antropologia fora do Brasil) e Daruge, propuseram uma adaptação ao método
para estimativa da altura a partir dos incisivos centrais, laterais e caninos
superiores, dentes da maxila, que por sua vez é presa à base do crânio e,
portanto, há maior probabilidade que estejam presentes (que grande sacada, não é, meus amigos?)
O método de Carrea e o Carrea modificado por Lima são
achados importantes da antropologia, mas ambos apresentam limitações, entre as
quais pode-se citar o intervalo entre as estimativas mínimas e máximas, que são
bastante amplos, podendo dificultar a exclusão de uma identidade ou outra na
busca da identificação do sujeito.
Além
disso, dificilmente as medidas lineares poderão abranger casos mais
específicos, como os de indivíduos que apresentem alteração de crescimento e
estatura fora do padrão. Ambos os métodos devem ser utilizados como
alternativas, mas na existência de ossos longos disponíveis, a análise sobre
estes trarão resultados mais confiáveis a respeito da estimativa de altura.
Tainá Falcão
Referências:
DARUGE, E. Tratado de odontologia legal e deontologia . 1 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2017. p. 524 - 550.