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    Liga Acadêmica de Odontologia Legal - UFPB

    Antropologia Forense

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    Ainda passeando pela Antropologia Forense e pegando gancho no nosso último texto, que falamos sobre a estimativa de sexo e sua aplicação no contexto atual (inclusive, se você ainda não leu, vai lá e confere!), outro fator identificador que é possível de se obter graças à análise dos nossos ossos, e dos nossos dentes, é a nossa altura. Portanto, seguiremos conversando sobre as estimativas!

    No vivo, a altura é medida com o auxílio de régua graduada e é determinada pela distância do ponto mais alto da cabeça ao solo, estando o indivíduo em pé, descalço e orientado pelo plano de Frankfurt. No cadáver, em decúbito dorsal, mede-se do ponto mais alto da cabeça à face inferior do calcanhar. Até aí tudo bem, o problema é quando os peritos estão diante de ossadas, completas ou não, sem qualquer informação sobre quem é o examinado, ou examinada, e isso é comum na rotina dos institutos oficiais de perícia.

    Buscar meios para estimar a altura do ser humano é um objetivo que vem desde muuuito tempo. Vocês já devem ter visto, ou ouvido falar, desse moço aí da figura abaixo, não é?

    Então, esse é o Homem Vitruviano, um desenho do século XV, de Leonardo da Vinci, inspirado na obra do arquiteto romano Marco Vitrúvio. O Homem Vitruviano retrata as proporções perfeitas (no que diz respeito a padrões matemáticos) da figura masculina e seu conceito é considerado modelo da proporção do corpo humano. Alguns deles são:

    1.    A altura do homem corresponde a quatro antebraços;

    2.    A longitude dos braços estendidos de um homem é igual à altura dele;

    3.    A largura máxima dos ombros é igual a 1/4 da altura de um homem;

    4.    O comprimento da mão é 1/10 da altura de um homem;

    … E segue, as descrições são diversas!

                Porém, a estatura de um indivíduo adulto é determinada por vários fatores, uns inerentes a ele - como sexo, herança genética, idade - e outros que correspondem a influências externas, como nutrição, horas de sono, clima, estímulos durante a fase de crescimento etc. Por isso, estimar a estatura de alguém quando este alguém “não está completo” é tarefa que mais difícil do que parece, tratando-se de uma ossada é preciso levar em consideração que ali não estão as partes moles nem os discos intervertebrais, assim, o trabalho vai além de colocar os ossos no lugar e montar o “quebra-cabeça” do corpo humano.

                É por isso que existem, descritos na literatura, métodos científicos para estimativa de altura e a escolha de qual aplicar vai depender do material que se tem para exame. Estando diante de ossada incompleta, ou mesmo somente do crânio, os dentes podem ser fonte de muita informação. Lembram do nosso texto sobre antropologia forense (dois posts atrás)? Lá falamos sobre eles serem mais resistentes à traumas, por estarem protegidos dentro da cavidade bucal, e por isso é comum que estejam presentes e disponíveis para análise.

                Carrea, em 1920, conseguiu estabelecer relação entre medidas dentárias, as quais ele deu o nome de corda e arco, e a estatura de um indivíduo, para isso ele considerou as distâncias referentes à largura de incisivos centrais, laterais e caninos inferiores, sua fórmula resulta em uma estatura mínima e máxima, a partir disso estima-se que a estatura real do examinado esteja entre elas.

                Porém (para cada solução, outro problema), é possível que o perito disponha do crânio, mas não da mandíbula, por este ser um osso articulado é comum que a ação da fauna local “suma” com metade das nossas possibilidades.

                (Para cada problema, outra solução) Em 2011, a fim de ampliar as possibilidades do uso do método de Carrea, Lima (também conhecida como Profª Laíse, coordenadora desta Liga 💓, e que também tem texto aqui no blog sobre a experiência com Antropologia fora do Brasil)  e Daruge, propuseram uma adaptação ao método para estimativa da altura a partir dos incisivos centrais, laterais e caninos superiores, dentes da maxila, que por sua vez é presa à base do crânio e, portanto, há maior probabilidade que estejam presentes (que grande sacada, não é, meus amigos?)

                O método de Carrea e o Carrea modificado por Lima são achados importantes da antropologia, mas ambos apresentam limitações, entre as quais pode-se citar o intervalo entre as estimativas mínimas e máximas, que são bastante amplos, podendo dificultar a exclusão de uma identidade ou outra na busca da identificação do sujeito.

    Além disso, dificilmente as medidas lineares poderão abranger casos mais específicos, como os de indivíduos que apresentem alteração de crescimento e estatura fora do padrão. Ambos os métodos devem ser utilizados como alternativas, mas na existência de ossos longos disponíveis, a análise sobre estes trarão resultados mais confiáveis a respeito da estimativa de altura.

     

    Tainá Falcão

              

    Referências:

    DARUGE, E. Tratado de odontologia legal e deontologia . 1 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2017. p. 524 - 550.

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    Estimativa do Sexo e os contrastes atuais

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    Estimativa do Sexo e os contrastes atuais

          Recentemente falamos sobre a Antropologia Forense. Mesmo sendo um meio secundário de identificação, não podendo, portanto, estabelecer uma identidade, auxilia na estimativa de sexo, idade, altura e ancestralidade, facilitando o caminho para os métodos de identificação primários. Hoje nós vamos falar sobre estimativa do sexo!



         Se você estiver tão animado(a) quanto a Bailey, acho melhor eu começar... Através de aspectos morfológicos e morfométricos do esqueleto é possível diagnosticar o sexo com segurança. Como muitos de vocês já imaginam (ou já sabem mesmo), a pelve ou bacia representa o segmento do esqueleto com maior dimorfismo sexual, ou seja, diferença entre os sexos no que tange as características não sexuais. Em muitos casos, especialmente em desastres em massa, a pelve pode não estar presente, fazendo-se necessário utilizar apenas o crânio e a mandíbula, que permitem um diagnóstico diferencial do sexo em grande parte dos casos. By the way, não é a análise de uma característica pontual que permite a estimativa do sexo não, tá!? É preciso a análise de um conjunto de características para termos a estimativa mais confiável possível. Agora vamos falar um pouco sobre esportes, mas se você não curte muito, fique por aqui que já, já eu volto a falar sobre estimativa do sexo.


      Tiffany Abreu. Tia Thompson. Mack Beggs. O que têm em comum? São atletas transgêneros. O Comitê Olímpico Internacional (COI), em 2015, estabeleceu regras para a inclusão destes atletas. Para mulheres transgêneros, as regras exigem o controle dos níveis de testosterona sanguínea abaixo de 10 nmol/L, por no mínimo, um ano. Já para os homens transgêneros, não existe impedimentos, acreditando-se que tais não adquirem vantagens físicas expressivas. Sabendo que os níveis do hormônio testosterona que as mulheres normalmente apresentam gira em torno de 2 a 3 nmol/L, você deve se perguntar se o nível máximo de 10 nmol/L ainda não conferiria vantagens físicas, não é? Sabendo da possibilidade do homem possuir mais receptores para testosterona, podendo até mesmo apresentar um organismo mais responsivo a ela, suas dúvidas com certeza aumentaram. As regras para as Olimpíadas de Tóquio permanecem incertas.

                                                                Tiffany Abreu

        Uma certeza que podemos ter é de que as publicações científicas ainda são escassas acerca dos transgêneros, sendo necessário conclusões mais sólidas para o meio esportivo. No Brasil, o panorama de produção científica sobre a transgeneridade tem se mostrado crescente, em comparação com épocas anteriores, mas ainda é escasso no que se refere as transformações morfológicas em decorrência da mudança de gênero.

        Você deve estar se perguntando onde a Antropologia Forense e a estimativa do sexo entram nisso tudo, não é? Pois bem. Como já mencionado, o esqueleto possui segmentos específicos muito úteis para a estimativa do sexo. Onde a transgeneridade entra nisso tudo? Faz-nos pensar até que ponto alterações morfológicas provenientes da mudança de gênero podem influenciar na estimativa do sexo. É importante deixar claro que a mudança de gênero em adultos, favorecida pela suplementação ou supressão hormonal, não interfere de maneira expressiva no sistema musculoesquelético, ou seja, ossos com características femininas não podem assumir uma conformação masculina apenas com suplementação hormonal na fase adulta, tendo em vista que estas alterações só ocorrem de maneira expressiva na puberdade. Até existem estudos que comprovam a redução da força muscular e da densidade óssea em mulheres transgêneros que passaram por supressão hormonal, no que se refere a performance física. Mas ainda persiste a dúvida do quanto, de fato, isto pode interferir na realidade da Antropologia Forense nos processos de identificação humana.

         Por que eu falei disso tudo, então, já que os efeitos hormonais no que tange as alterações morfológicas na fase adulta são mínimos? Porque a mudança de gênero tem sido uma realidade bastante presente entre crianças e adolescentes. Compreendendo que seu sistema musculoesquelético ainda está em desenvolvimento, começamos a pensar o quanto o aporte de hormônios pode interferir nisso tudo.



        Vamos falar agora sobre o perfil biológico estabelecido para ambos os sexos. Eu e você conhecemos características morfológicas que são atribuídas aos homens, assim como as atribuídas às mulheres. Você consegue pensar em pessoas que fujam a este padrão? Posso citar Nina Braga Nunes, irmã de Gabriel Braga Nunes. Um relato de Gabriel acerca de uma peça em que ele interpretava uma mulher nos diz que bastava ele colocar uma peruca que ficava parecido com a irmã. Eles sempre se acharam parecidos. Este é um bom exemplo ao mostrar uma mulher, que por parecer com o seu irmão, apresenta traços masculinos. A comparação contrária também é válida? Deixo esta análise com você!


                                                     Nina e Gabriel Braga Nunes

        Devemos ainda considerar que a atividade laboral de homens e mulheres mudaram muito com o decorrer do tempo. Muitos homens passaram a realizar trabalhos que não exigem necessariamente força braçal, enquanto as mulheres começaram a assumir jornadas até então não enfrentadas. Quanto tempo você acha que será necessário para que as mudanças morfológicas decorrentes disto possam ser notadas e passem a interferir no serviço da Antropologia Forense? Uma coisa é certa: a ciência não foi feita para responder questões que estão fora da sua esfera de competência. Isso pode acabar levando-a ao descrédito. Mas outro fato é mais certo ainda: exigimos muito pouco dela e devemos acreditar que ela ainda tem muito a nos oferecer.

    Tifany Shela Albuquerque Borba de Andrade

     


    REFERÊNCIAS 

    VANRELL, J. P. Odontologia Legal e Antropologia Forense. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan; 2019.

    RODRIGUES, N. G; SILVA, C. H; ARAUJO, I. S. Visibilidade de pessoas trans na produção científica brasileira. Reciis – Rev Eletron Comun Inf Inov Saúde. Rio de Janeiro, v. 13, n.3, p. 658 – 670, 2019.

    McGRATH, A. Surpreendido pelo sentido. São Paulo: Hagnos, 2015. p. 12.

    PROTA, L. Transgêneros: a Ciência Por Trás da Determinação do Sexo no Esporte. O Cientista do Esporte, 2018. Disponível em: https://globoesporte.globo.com/sportv/blogs/o-cientista-do-esporte/post/a-ciencia-por-tras-da-determinacao-do-sexo-no-esporte-parte-2.ghtml.

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    ANTROPOLOGIA FORENSE

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              Antes de iniciar sobre esse tema, te convido para juntos fazermos uma breve viagem no tempo. Isso mesmo! Para que você possa entender melhor, vamos dar um pulinho lá no ensino fundamental (bons tempos, não é?). Pois é! Então pegue seu Golden Ticket e vamos lá!

    Indo agora para o período pré-histórico, acho que você lembra como o homem teve que se adaptar para sobreviver, lembra? Certeza que sim! Então, todo esse processo evolutivo no decorrer dos milhares e milhares de anos, foi moldando o homem, tanto no aspecto genético quanto no morfológico. Isso porque as informações gênicas também foram sofrendo modificações e sendo passadas de geração em geração. Agora vamos para a parte matemática da coisa (brincadeira):

    Fenótipo= Genótipo + influência do meio

    (Espero que não você não tenha matado as aulas de Biologia)

    Olhando pelas lentes do processo evolutivo, não tem jeito, temos que compreender que a evolução humana é um processo dinâmico e que sofre influência genética, histórica, geográfica e morfológica. Portanto, as características do cabelo, cor da pele, formato do rosto, cor dos olhos, características ósseas, sofreram um processo evolutivo até ser o que é.

    Por conta disso, a Antropologia Forense desempenha um papel extraordinário na identificação de restos humanos em estados diferentes de esqueletização e até mesmo na determinação da possível causa da morte do indivíduo . Ah, mas antes, bem rapidinho, tenho que explicar a diferença entre Identidade e Identificação. A identidade é o seguinte... Hum... A identidade vai ser o conjunto de características de uma pessoa que a faz diferente de todas as outras. São características próprias permanentes que podem ser natas ou adquiridas. Já a identificação é todo o processo que é feito para individualizar uma pessoa ou objeto. É onde se compara o que se tem com dados que foram registrados anteriormente - (Lembrando que essa identificação pode ser civil ou criminal e você entenderá um pouco mais à frente).



    Só que, nem tudo são flores né, amores? Para que esse processo de identificação se aplique, existem algumas regrinhas. São cinco requisitos que devem ser preenchidos, sendo três requisitos biológicos (Unicidade, Imutabilidade, Perenidade) e dois requisitos técnicos (Praticabilidade e Classificabilidade). Não vamos entrar no mérito da descrição de todos eles para não ficar cansativo. Será algo compreensível no decorrer do texto.

    Você lembra da identificação criminal comentada antes?  Então, antigamente a coisa funcionava de uma maneira peculiar, um tanto agressiva.  No intuito de marcar os criminosos e até mesmo as prostitutas, eram feitas marcações com ferro em brasa! Isso mesmo, queimaduras, além de mutilações e tatuagens. Tais marcas serviam tanto para a sociedade manter distância dessas pessoas como para dar uma ajudinha na formação de seus grupos. O tempo foi passando e os estudiosos suando a camisa para se chegar à um método mais viável de identificação.

    Vamos entrar no momento CSI da coisa? Sim, claro ou com certeza? Elementar, meu caro leitor. O tempo passou, passou até que um dia alguém teve a brilhante ideia de estudar as impressões digitais. Aquela coisinha bonitinha de se ver que parece mais a bochechinha do Jig Saw dos Jogos Mortais. Quando olhamos para os nossos dedos, para a polpa digital - formada por sulcos e cristas - vemos o Desenho Digital. A impressão digital é a marca que deixamos nas superfícies ao tocá-las – a marca é a reprodução do desenho digital. Tais características preenchem alguns dos requisitos biológicos citados anteriormente: unicidade, por ser única em cada indivíduo; imutabilidade, por não sofrer mutação ao longo do tempo; classificabilidade, por ser fácil de classificar e armazenar as informações, e, praticabilidade por conta da facilidade de se coletar as impressões.

     No ano de 1891, Juan Vucetich desenvolveu, na Argentina, o sistema de identificação dactiloscópico que é utilizado até hoje (e que graças à tecnologia você não precisa mais melecar seu dedo com tinta de carimbo). Ele estabeleceu quatro dactilogramas básicos que são identificados por letras e números e aplicados à uma fórmula que é INDIVIDUAL. Tal sistema foi aceito pelo Brasil em 1905.

    A interpretação dessas impressões é feita a partir da análise de pontos específicos contidos na impressão. É feita a comparação da impressão encontrada com a impressão do suspeito ou da vítima. Caso haja coincidência em 12 -20 pontos, deu match! (Tem como não amar?)

    Acontece que, em algumas situações específicas, nem sempre será possível coletar a impressão digital. Um exemplo disso é a ocorrência de um desastre em massa que , dependendo do agente causador, pode provocar a perda severa de tecido biológico do indivíduo. Outro exemplo é o estado avançado de putrefação. E agora? Quem poderá nos socorrer? O Chapolin Colorado? Não. Os dentes! 

    Os elementos dentários são extremamente resistentes a altas temperaturas, condições ambientais, entre outros fatores. A literatura vai nos dizer que não existem duas pessoas com dentaduras iguais porque os  elementos dentários possuem características individualizadoras. Características dentárias como a forma, tamanho, número, tratamentos dentários, posicionamento do elemento na arcada, são características que podem auxiliar na estimativa de idade, de grupo étnico, altura e determinação do sexo.

                 O bicho pega quando se fala em Antropologia no Brasil, (os Odontolegistas que o diga), pois muitos fatores acabam por dificultar o processo de identificação.

    Em casos da identificação pelos dentes, se tratando de desastres em massa, os odontolegistas ficam na expectativa de receber a documentação ante mortem  por parte dos familiares para que assim possa ser feito o confronto com informações obtidas no exame odontolegal. Já em cadáveres esqueletizados (ossadas) a coisa fica um pouco mais difícil. Se faz necessária a busca (reclamação) por parte da família para que o odontolegista solicite a documentação odontológica, e realize o confronto com as informações de um ou mais cadáveres que preencham os requisitos que estão sendo citados pela família do desaparecido.  

    Outro ponto que por vezes dificulta o exame antropológico pelos dentes, em casos de ossadas, é o fato de nem sempre a mandíbula ser encontrada próximo ao crânio. Por ser um osso articulado, é muito provável que animais levem a mandíbula para poder se alimentar dela outro lugar… e lá se vão os dentes - o que vem a prejudicar, por exemplo, a estimativa da altura pelo método de Carrea (1920) que utilizada os dentes da arcada inferior como referência.  Além disso, os dentes podem ser perdidos do alvéolo durante a manipulação da ossada (tadinho dos peritos, né?). 

     Muitas informações bombardeiam a nossa mente, principalmente no nosso país que sofreu um baita processo de miscigenação. E agora? Como partir do zero diante de um cadáver esqueletizado? Graças aos estudiosos desse tema, alguns métodos foram desenvolvidos a fim de separar, da melhor forma, o que verificar, seja de forma qualitativa ou quantitativa, para se estimar a ancestralidade, idade, altura, determinar o sexo, e se possível, a causa da morte. Outras partes ósseas também têm sua importância na determinação ou estimativa de algum dado. A exemplo dos ossos da pelve, vulgo bacia, que, segundo a literatura, constitui o osso mais dimórfico, sendo o de primeira escolha na determinação do sexo. 

    Vale lembrar que nenhum método por si só afirma que a ossada em estudo pertence a tal etnia ou tem idade “x”. Tudo é estimado. Todos os métodos desenvolvidos são opções para que se possa chegar o mais próximo possível do provável. 

    Bom, chegamos ao final do nosso tour! Espero que tenha aproveitado! Fico nessa estação. Aguarde os próximos textos porque vem muita coisa boa por aí!

    Isis Teixeira


    Referências:


    VANRELL J. P. Odontologia Legal e Antropologia Forense. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2019. p. 247 - 363


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    Happy Chidren’s Day! (for those who have birth records)

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              Pois é caros leitores, 2020 não brincou, o solstício de verão se aproxima e já estamos em pleno october, mês mais rosado do ano, das crianças, dos professores e dos festivais de cerveja. Mas antes que o Halloween chegue, precisamos conversar sobre algo muito sério!




    Dentre as comemoração do mês, o dia das crianças é a que mais movimenta o comércio, entretenimento, redes sociais e TV, mas também é a comemoração mais injusta e cega de todas. Ao passo que muitas crianças ganham presentes, carinho, atenção e assistência digna, outras não conseguem sequer ter o direito de brincar, ou ser criança de fato em sua infância, sendo submetidas ao trabalho infantil.

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    Mas isso também é um assunto bastante debatido e não é sobre a parte superior do iceberg que quero conversar com vocês. 

    Você sabia que 29% dos nascimentos em todo o mundo não possuem registro?!?!



    Isso representa quase 1 a cada 3 crianças não registradas ao nascer. Muito desse número é devido aos crescentes conflitos civis, militares ou religiosos que geram uma demanda cada vez maior de recursos humanos para sobrevivência, obrigando ao refúgio a partir da imigração ilegal. É quase um suplício pela vida! A África subsariana é a região do planeta com maior taxa de nascimentos não registrados, mas isso é um problema que tem ocorrido em todas os continentes, infelizmente.



    E como a ausência de registro de nascimento vai maleficiar essas crianças?

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    São quase infinitas as situações em que a informação da idade cronológica do indivíduo é solicitada. Alguns exemplos: processos de adoção, casos de falsificação de documentos, recebimento de pensão/aposentadoria, permissão para trabalhar legalmente, classificação etária nos desportos, até às decisões em casos de abuso sexual de menores ou pornografia infantil.


    Mas afinal, o que isso tem a ver com Odontologia?!

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    TUDO! (risos). A ausência de evidência documental da idade requer a realização de uma perícia para se estimar a idade do indivíduo, seja criança, adulto ou idoso. Obviamente que as crianças são uma das categorias mais vulneráveis dessa celeuma, mas também é nessa fase da vida que os peritos encontram mais parâmetros para uma estimativa segura da faixa etária cronológica, já que os métodos são baseados no desenvolvimento dos tecidos corporais, e na infância isso acontece a todo vapor em todo o corpo!

    A partir do desenvolvimento dental também é possível chegar a essa estimativa. Inclusive alguns estudos apontam para uma estimativa mais acurada em crianças quando métodos odontológicos são utilizados.


    E voltando à discussão inicial…

    O perito odonto desempenha um trabalho essencial e não invasivo na aferição da possível idade das crianças sem registro de nascimento, principalmente daquelas que vivem em regiões de fronteiras próximas a países com grandes conflitos sociais. Em meio a esse turbilhão de possibilidades, frente à busca por dias melhores, o que mais motiva a atuação dos profissionais é a esperança em arrancar um sorriso como esse: 


     



    Johnys Berton Medeiros da Nóbrega

    Referências:


    1. https://www.andonix.com/wp-content/uploads/2020/02/Iceberg-of-Ignorance-1.jpg

    2. https://www.facebook.com/FerramentasKennedy/photos/a.186615088073996/2334698433265640/

    3. https://global.unitednations.entermediadb.net/assets/mediadb/services/module/asset/downloads/preset/assets/2018/05/2018-01-27_UNICEFWeShare_UN0157554_Kasai-Children.jpg/image1170x530cropped.jpg

    4. https://www.odontoblogia.com.br/wp-content/uploads/2018/03/dente-de-crian%C3%A7a-1280x720.jpg

    5. CRUZ, Giovanna Damico Nascimento da. Estimativa de idade pelos dentes em não-adultos. Trabalho de conclusão de curso (Odontologia). 2019.

    6. PEYNEAU, Priscila Dias; DEZEM, Thais Uenoyama. ESTIMATIVA DE IDADE POR MEIO DO VOLUME DAS CÂMARAS PULPARES EM IMAGENS DE TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA DE FEIXE CÔNICO–REVISÃO DE LITERATURA. RBOL-Revista Brasileira de Odontologia Legal, v. 7, n. 1, 2020.

    7. CUNHA, Eugénia et al. The problem of aging human remains and living individuals: a review. Forensic science international, v. 193, n. 1-3, p. 1-13, 2009.

    8. BHATIA, Amiya et al. Who and where are the uncounted children? Inequalities in birth certificate coverage among children under five years in 94 countries using nationally representative household surveys. International journal for equity in health, v. 16, n. 1, p. 1-11, 2017.


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    Queiloscopia e Preenchimento Labial

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                Se você está por dentro dos assuntos comentados aqui no blog, já deve saber que uma simples marca de batom pode ajudar na identificação humana em uma cena de crime, mas será que o uso dos famosos preenchedores labiais pode prejudicar a análise dessas impressões?

    Sabemos que a Harmonização Orofacial é a queridinha do momento e está sendo cada vez mais procurada por mulheres e homens que desejam melhorar a estética da face. E o preenchimento labial não poderia ficar de fora, né? Ele veio para realizar o sonho de muitas mulheres em ter os lábios parecidos com os da Angelina Jolie.

    Mas para saber se esse procedimento pode mesmo atrapalhar as marcas deixadas pelos lábios é necessário conhecermos melhor esse método de identificação humana.

    Para quem não está familiarizado com o termo, queiloscopia é a ciência que estuda as impressões labiais, levando em consideração todas as suas características, como a espessura, comissuras labiais, sulcos e fissuras existentes.

    Essas impressões podem ser tanto visíveis, quando são deixadas por produtos cosméticos (caso do batom), tinta e até mesmo sangue, ou latentes, que seriam o resultado da própria saliva e glândulas sebáceas do indivíduo. Essas marcas podem ser deixadas em copos, guardanapos, talheres, cigarros e roupas da vítima. A coleta para a análise é bastante simples e rápida, além de apresentar baixo custo, sendo feita a comparação de todas essas estruturas apresentadas.

    Como vimos, esse tipo de identificação é possível através, principalmente, das impressões dos sulcos e fissuras, que são permanentes e imutáveis, ou seja, não mudam ao decorrer da nossa vida. Com o preenchimento labial, os lábios apresentam um aspecto mais “liso”, a depender do volume utilizado em cada paciente, causando certa distorção nos sulcos existentes, o que poderia levar a uma diferença na análise.

    Porém, ainda não é possível afirmar o grau de comprometimento desses sulcos pelo material de preenchimento labial, pois ainda não existem pesquisas relacionando os dois temas. Mas, por se tratar de um material que é facilmente absorvido pelo organismo, tem-se a opção de esperar a normalização do tecido para realização da coleta.

     A queiloscopia ainda é um campo pouco estudado pelos autores, com poucas pesquisas e trabalhos sobre o tema, o que acaba prejudicando a sua aplicabilidade na Odontologia Legal.

    Por não apresentar uma classificação universal, não é considerada um método de qualidade no campo da identificação, mas a queiloscopia pode se tornar bastante útil na prática forense devido à extensa quantidade de informações preciosas que carrega, por isso, é muito importante o incentivo para novas pesquisas nessa área.


    Thaís Cavalcante



    Referências:


    HERRERA, L. M.; FERNANDES, C. M. S.; SERRA, M. C. Utilização da queiloscopia como método de identificação humana. Revista de Odontologia da UNESP, Araraquara, v. 40, n. Especial, p. 0-0, 2011.
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    O estudo da antropologia forense fora do Brasil por Laíse Lima

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        Inspirada na mediação das palestras que me convidaram a fazer para o IV Congresso Nacional de Antropologia Forense (CONAF), cujos palestrantes eram internacionais e iriam expor seus temas na língua espanhola, fui convidada a revisitar um passado que considero um divisor de águas na minha vida: o meu período de doutorado sanduíche, que aconteceu na Universidad de Granada - Espanha, sob anuência do professor Miguel Botella, não coincidentemente, um dos palestrantes ao qual mencionei anteriormente. Embora tenha sido com a sua aprovação a estância ali foi com orientação da professora Inmaculada Aleman, a quem, já de início, devoto e teço todos os elogios possíveis e existentes. Sabe aquela pessoa que nunca está de mau humor? Que nunca reclama de nada? Que te ajuda em tudo? É ela. Acho que nunca a vi sem um sorriso no rosto. Inma, você é sensacional e foi determinante para que tudo tenha sido acima das minhas expectativas. Aliás, todas a pessoas que me rodearam ali são especiais. Mas já falo delas também. O que eu acho mesmo é que os espanhóis sabem viver melhor a vida, por isso são todos muito agradáveis e sempre, sempre, sempre, me ajudavam. Há quem diga que eles não são assim, mas a estes digo que acho que confundem sinceridade com grosseria. Isso é tema para um outro texto (risos).

          Mas volta, Laíse, o tema aqui é a sua vivência em Antropologia Forense fora do Brasil, mais precisamente lá na Espanha.  Então vamos lá. Como mencionado, eu fui para a Espanha durante o meu doutorado, no 3º ano deste, e passei o ano todo lá. Antes disso, fiz mestrado e especialização em Odontologia Legal na Faculdade de Odontologia de Piracicaba – UNICAMP, sempre pesquisando e sendo uma apaixonada pela Antropologia Forense e, não diferente, vinha dando sequência a alguns estudos nessa área no doutorado. 

           À princípio achei que nunca seria merecedora, escolhida ou contemplada com uma bolsa sanduíche. Até porque achava que os países de língua inglesa seriam as escolhas dos meus orientadores, e confesso que esse não é o meu forte. O inverso do espanhol, ao qual sempre me interessei, fazendo cursos e sendo a mais dedicada das pessoas ao seu estudo. Um belo dia, nos corredores da faculdade escuto meu orientador dizer que “vai perder a bolsa sanduíche porque o aluno que ia fazer jus não se interessou e o prazo ia acabar”. Na mesma hora eu disse: “como assim? O nosso programa não pode ‘perder’ essa bolsa. Eu quero, eu vou e eu consigo tudo nesse prazo aí”. Pronto, estava lançado meu principal desafio para o sanduíche: correr contra o tempo e dar conta de TODA burocracia envolvida. Não sei como está hoje, mas na época, eu precisei até autenticar todas as assinaturas dos meus diplomas (imagina ir atrás dos cartórios onde reitores e afins tinham firma reconhecida?). Bom, eu não sei como, mas consegui. Até porque (e antes da burocracia principal), a universidade fora tem que aceitar você e a primeira escolha do orientador foi uma na Inglaterra, mas pelo melhor dos acasos, ele acabou desistindo dela e sugerindo a Espanha. Aí sim, aí tudo deu certo.

          Cheguei em Granada no início de dezembro de 2016, num inverno que eu nem sabia que existia e descobri que as coisas não eram tão simples assim. Como boa representante nordestina, suportar aquele frio foi desafiante e, digamos, traumático. Além disso, mesmo com toda dedicação prévia, entender e me fazer entender em espanhol foi, à princípio, assustador. Para quem acha que é fácil sugiro um período em qualquer país hispanofalante (risos). No primeiro dia, fui recepcionada pelos professores Miguel e Inma e convidada a conhecer toda a faculdade. Vou me arrepender por colocar essa foto aqui, mas é único registro que tenho desse primeiro dia.

    Primeiro dia na Faculdad de Medicina da Universidad de Granada, com os professores Inma e Miguel.

     

        Eu entrei na Universidad de Granada inserida no Departamento de Medicina Legal, Toxicología y Antropología Física, área de Antropología Física, até então coordenado pelo professor Miguel Botella. Como o nome sugere, esse departamento fica localizado na Facultad de Medicina, um complexo que, aliado aos outros cursos da área da saúde, exceto Odontologia, é de uma imponência e beleza sem igual. Vai ter que ter foto para eu conseguir traduzir o que estou dizendo e o que eu senti quando vi e entrei lá pela primeira vez. Tudo era (é) lindo e MUITO moderno.

     

    Vista anterior e esquerda da Facultad de Medicina da Universidad de Granada.


    Vista posterior e direita da Facultad de Medicina e da Facultad de Ciencias de da Salud da Universidad de Granada.

     

          Essa foi uma das principais diferenças que encontrei ali. A Odontologia não fazia parte do complexo da saúde e a promessa era de que, um dia, o curso iria sair do prédio que ficava no centro da cidade, ao qual eu apenas visitei. Durante todo o ano do sanduíche eu frequentei e estudei na Facultad de Medicina, mais precisamente na ‘planta B’, esse prédio, dentre os iguais, localizado no meio, no 4º andar. Bom, no 4º andar ficava toda a seção de Antropologia, com as salas dos professores, salas dos convidados, sala de alunos, biblioteca própria e um acervo histórico, sala com equipamentos e materiais de pesquisa, de fotografia, além da salinha a qual me instalaram. Eu a dividia com o Javi e a María, no começo, e depois ela foi substituída pelo David (não podia deixar de mencioná-los, afinal foram meus parceiros, minha companhia, meus tira-dúvidas e com quem eu aprendi muito, com as simples conversas - verdadeiras aulas). Eu também usufruía das salas de estudo nos demais andares e muitas vezes, preferia e adorava ficar diretamente no subsolo, onde ficavam as coleções osteológicas, embora a vista da minha sala fosse uma das mais lindas, pois ao fundo via parte do conjunto montanhoso pertencente a Sierra Nevada. No subsolo ficavam os dois laboratórios que eram meu objeto de interesse. No primeiro, já citado, ficava a coleções osteológica contemporânea de adulto, e no segundo a de esqueletos infantis. A Universidade de Granada tem uma coleção significativa de ossadas de subadultos, o que a torna também um centro mundial de pesquisas nessa área. 

    Vista da sala em que eu fui instalada. No inverno era lindo ver as montanhas cobertas de neve.

    Com Jávi e María, na “nossa” sala.

    Com David, no laboratório 2, fazendo limpeza de ossos infantis.


    No laboratório 2, onde ficam os esqueletos infantis, com Jávi e David, estudando “niños”.


    Disposição das coleções no Laboratório 1 de Antropologia.

     

    Visão panorâmica da disposição das coleções osteológicas no laboratório 1.


        Voltando, a ausência da Odontologia não era apenas física, com o passar do tempo percebi que a Antropologia Forense ali na Espanha, se estendendo a outros países da Europa, não ‘era muito coisa de dentista’. Não havia nenhum estudante de Odontologia, seja da graduação ou da pós, naquele ambiente e eu era a ‘estranha no ninho’. Exceções aconteceram quando, durante o ano todo que fiquei ali, eles receberam a visita de pós graduandos de Odontologia em áreas forenses, interessados em aprender e fazer pesquisa em Antropologia. Contudo, todos eles, à época, eram provenientes de países pertencentes a América, como México, Chile, Argentina, dentre outros, que passavam alguns dias ou meses. Os estudantes de pós-graduação e pesquisadores vinculados, que pertenciam ao curso de Antropología Física y Forense da Universidad de Granada (esse é o curso do mestrado que eles têm e para quem tiver interesse em saber mais, segue o link: https://masteres.ugr.es/antropologiafisica/), eram em sua maioria, graduados em Biologia, Criminologia (lá é uma graduação - que inveja deles) e Arqueologia. Tive a oportunidade até de gravar conteúdo para a turma de mestrado. Isso mesmo, gravações, quase ao estilo, Bones (risos). E claro, os professores vinculados ao departamento variam a sua formação também nessas mesmas áreas citadas, além da Medicina, e davam aulas também nestas graduações (eu tive a oportunidade de assistir aulas da Inma e do Miguel nos cursos de Direito e Criminologia). E vocês devem estar se perguntando, ‘como assim, e os dentes? Dentista que entende de dente’. Pasmem, eles sabiam MUITO sobre dentes, muitas vezes mais do que eu (que vergonha!). Não estou falando no âmbito clínico obviamente, me refiro a anatomia, interpretação de patologias e características encontradas nos elementos dentários dos esqueletizados, acrescido também de um contexto histórico, afinal, como puderam perceber na foto em que é a disposição das estantes do Laboratório 1, eles não têm apenas uma coleção osteológica contemporânea. Existem diversas coleções e indivíduos pertencentes aos períodos neolítico, medieval, dentre outros. A gente não tem noção do que isso representa. Historicamente nós (Brasil) somos um bebê, perto da Europa e, mais especificamente a Espanha, por isso tanta necessidade e interesse em arqueologia, antropologia física. Não raro existem muitas escavações em meio a cidade para remontar o passado e como viveram os antepassados. Ao retornar a Granada, quase um ano após o meu período sanduíche, tive a oportunidade de acompanhar essas escavações de perto, durante um dia (que sensação incrível).

     

    Dia das gravações para o mestrado em Antropología Física y Forense da Universidad de Granada.

    Dia de visita às escavações.

    Dia de visita às escavações.

     

         Retomando do ponto da Odontologia, aqui no Brasil, a Odontologia Legal e a identificação humana são quase ‘sinônimos’ (calma pessoal da área, vou me fazer entender). Talvez essa parte da nossa especialidade seja a mais representativa e conhecida pelos leigos. E onde eu quero chegar com isso? Eu sei que lá tem a Facultad de Odontología, também pertencente a Universidad de Granada e eles têm sim a área e disciplina de Odontología Forense, com conteúdo mais voltado para dentes e conhecimentos que nós também temos aqui, mas eu mesma não frequentei e não posso falar muito a respeito. E o foco aqui é a Antropologia Forense, que repito, era totalmente vinculada a Facultad de Medicina, com departamento próprio (já citado, Departamento de Medicina Legal, Toxicología y Antropología Física). O mais próximo que cheguei da Odontología Forense lá foi em um curso que eu fiz (pago, aberto a todos e que tem todo ano - pelo menos tinha até a pandemia), chamado Curso Avanzado em Antropología Forense, no qual houve a temática: Estudio de los dientes em Antropología Forense. Estava ansiosa pelo conteúdo, mas quando assisti, nada de diferente do que sabemos aqui foi falado (aliás, nesse aspecto, achei muito básico). Pelo que vi ali, naquele momento, nós aqui temos, digamos, uma maior complexidade no que diz respeito ao estudo das técnicas e métodos de identificação por meio dos dentes. Nesse curso, fiz uma série de questionamentos e diante das respostas percebi o porquê dessa minha percepção, não só em Odontologia, mas em tudo que era “forense”.

           Esse termo, no nosso meio, nos leva a “necessidade de investigação, perícia” (não estou aqui definindo nada, nem criando conceitos, hein pessoal!). É inegável a nossa necessidade de responder as perguntas da “justiça”, uma vez que estamos atrelados a uma série de situações bizarras que acontecem no Brasil. Formas de morte e lesões das mais criativas e violentas possíveis, as quais nos deparamos e que precisam ser entendidas e respondidas às autoridade competentes e a sociedade. E isso dificulta ainda mais no caso dos esqueletizados e, sobretudo nestes, uma vez que, são “apenas” os ossos, o material restante a ser analisado.

         Nessa perspectiva, a ocorrência e a variedade de situações nos trazem diferentes tipos de casos que precisam ser decifrados e, por isso, melhor e mais a fundo estudados, pesquisados. Como eles vão entender melhor de casos violentos, da investigação “forense” se, para eles pouco ou raramente acontecem? Então, como não há demanda relativa à violência, portanto não há necessidade de muitas discussões nesse âmbito. E essa foi uma das principais diferenças que ali encontrei. Conversando informalmente no Instituto de Medicina Legal (IML) de lá, sobre a quantidade de mortes violentas por arma de fogo, descobri que eles registraram 6. Ok, um número razoável. “Seis, por semana ou por mês?”, questiono. “Não, 6 no ano”. “Ah? Como assim, NO ANO?”. “Sim, isso mesmo, 6 no ano” (perguntei várias vezes, no ano? No ano mesmo? Certeza?). Pasmem, 6 corpos chegaram ao IML, com morte ocasionada por projétil de arma de fogo NO ANO TODO. Imaginem o encontro de ossadas. E digo, de ossadas contemporâneas, claro. Porque as de interesse da Arqueologia são em número bem maior (risos) e a partir daí encontrei outra grande diferença no estudo da Antropologia Forense que tive lá. Aqui, geralmente as perguntas iniciais que são feitas no encontro de ossadas são: é osso? É humano? São quantos indivíduos? E por aí vamos afunilando em busca de um perfil biológico. Lá, após saber se é humano, tem que se saber se é contemporâneo, ou seja, ossadas datadas com mais de 20 anos já não são mais de interesse forense e sim, antropológico e arqueológico. Claro que, o período de 20 anos é curto para “não ser mais contemporâneo”, mas se inclui aí também o período prescricional dos eventos violentos. Não que no Brasil não haja datação de tempo de morte e prazos prescricionais, quis enfocar que a pergunta da contemporaneidade é algo muito mais natural e de rotina para eles, o que não acontece por aqui. Ah, claro, ia esquecendo, não há odontolegistas no IML e este é tão lindo e moderno quanto a faculdade.

    Instituto de Medicina Legal de Granada, ao lado, a Facultad de Medicina.

     

    Sala de necropsia do Instituto de Medicina Legal de Granada.

     

        Imagino que já estejam cansados dessa aventura toda e me preparo para o fim, mas afirmo aqui que poderia escrever um livro sobre essa experiência de vida. Sim, de vida! É muito válido para o nosso país, a experiência fora, seja ela em qualquer lugar do mundo. Sem dúvida, eu voltei uma pessoa melhor e uma professora melhor. Não falei antes, mas quando passei no doutorado eu já era concursada, era professora de Odontologia da Universidade Federal do Maranhão, lugar ao qual devoto muito carinho e cuja saudade é sem tamanho. Hoje, escrevendo esse texto sou professora de Odontologia Legal da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), minha terra natal, e escrevo a pedido da Liga Acadêmica de Odontologia da UFPB, a qual tenho muito orgulho de fazer parte, ao lado da professora Bianca Santiago. Então, voltando, o aprendizado ali foi imensurável. Ao governo brasileiro, posso dizer que esse é um investimento e não um gasto, e MUITO importante. Se os governantes soubessem (e quem passou também talvez possa confirmar o que digo) o quanto é enriquecedor e transformador essa experiência, garantiria a todos os docentes. O crescimento profissional é imenso e o pessoal é maior ainda. Vivenciar as diferenças é promover conhecimento e ensinamento, em quaisquer das áreas. Não sei se sou uma boa professora, mas sem dúvida sou uma professora com um olhar mais amplo, menos engessado nos moldes brasileiros e oportuno aos meus alunos tudo que aprendi, que reaprendi e que vivi. Porque, por maior que seja leitura sobre, a gente aprende mesmo é vendo, vivendo e sentindo. Não há letra, palavra ou sentença que substitua o ver, o ouvir, o sentir, o tocar e finalmente o vivenciar.

    Por fim, o que posso resumir para vocês:

    - Percebi que eles (europeus no geral) dão MUITO mais valor a ciência, pesquisa e cultura e que respeitam MUITO mais quem trabalha (e estuda) com isso.

    - Pelo motivo acima, existe um financiamento e um apoio MUITO maior, desde a base, para a educação e pesquisa.

    - Descobri também que nós (brasileiros) somos MUITO BONS (inteligentes e capacitados) e fazemos literalmente milagre com o que o nosso país investe em pesquisa e educação para obter os resultados que temos em muitas áreas do conhecimento (sim, nós temos esse ‘complexo de vira-lata’, conforme já vislumbrou Nelson Rodrigues). Ganhar menção honrosa em um evento lá só corroborou o que senti, desde o começo.

    - Que nós, juntos, somando experiências, seremos melhores. Melhores pessoas, melhor sociedade e melhor mundo. Por um mundo sem fronteiras!

          Bom, agora imagino todos que estão lendo pensando “uau, que experiência incrível”. E foi mesmo. Quem tiver interesse, disposição e coragem não só pode, como deve ir. Foi surreal, pelo menos para mim que não tinha sequer passaporte antes de ir!  Mas, se vocês me perguntarem agora se eu faria de novo, eu diria não! Mas, não? Como assim, depois de tudo isso que você falou? Teve alguma coisa ruim lá? Posso afirmar com letras garrafais que lá não teve NADA, absolutamente NADA ruim (um pouco de saudade de coxinha, empadinha e açaí, e talvez o incômodo com o frio)! O mais cômodo, justo e honesto (afinal eu fui mesmo) seria eu responder, SEM DÚVIDA, faria tudo novamente! Do ponto de vista profissional foi o TOPO de minha vida até agora e de crescimento pessoal foi o início de uma fase de muito entendimento. Mas, a minha ida deixou para trás algo que eu acabei perdendo e que eu não abriria mão novamente!

     

    Apresentando o trabalho que foi menção honrosa na IV Jornada de la Asociación Española de Antropología y Odontología Forense (AEAOF) y IX Reunión de la Sociedad de Odontoestomatólogos Forenses Iberoamericanos (SOFIA) – 2017. Huelva – Espanha.

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